Não sei ao certo o que aconteceu.

Só sei que acordei, abri o celular e, do nada, eu tava transformando meu filho num personagem de filme da Pixar.

E mais: minha esposa, correndo atrás dele de toalha no cabelo, creme na cara e sorriso no rosto, virou um cartaz de cinema.

Meu filme preferido.

Parei. Respirei. Olhei pro teto.

E pensei:

Qual é o objetivo do ChatGPT com isso? Será que é isso que ele queria?

E lá vêm vozes na minha cabeça tentando decifrar esse algoritmo mágico:

[Voz da cabeça com sotaque de sabedoria digital:]

“Liberamos essas imagens porque vocês precisavam disso. Porque o mundo andava feio demais.”

E de repente, meu senso de responsabilidade com uma dose cavalar do meu TDAH grita:

[Voz da cabeça agitada, provavelmente tomando café:]

“Mano, você devia estar fazendo outra coisa agora. Tipo terminando aquele projeto. Mas olha isso. Olha esse bebê. OLHA ESSA LUZ!”

E então me vi ali.

Um ser humano fluoretado, diagnosticado, multitarefa (e nenhuma delas completa), tentando entender um algoritmo com trilhões de dados que, por algum motivo, decidiu me dar… magia.

Magia em forma de desenho.

Pela primeira vez em muito tempo, eu não quis parecer mais bonito.

Nem mais magro.

Quis parecer mais… verdadeiro. O máximo possível.

Queria que o desenho fosse o mais real possível.

Uma ironia aos filtros que aplicamos no dia a dia para esconder nossas “imperfeições”.

Quis ver minha vida do jeito que ela merece ser contada:

Com exagero, luz e aquele olhão brilhante que só os desenhos sabem dar.

As pessoas começaram a fazer o mesmo.

Pegaram suas melhores fotos.

As mais tortas, as mais reais, as mais cheias de história.

Transformaram em pôster, em aventura, em lembrança.

E foi aí que eu entendi.

O algoritmo, esse ser de dados, fórmulas e inteligência artificial tinha feito algo que muita gente de carne e osso já não fazia mais:

Ele lembrou quem a gente era.

Talvez tenha sido só um clique.

Mas naquele clique tinha meu filho em fuga, minha esposa rindo com a cara toda melecada,

e eu, um pai atrapalhado, emocionado com um pôster digital.

Tinha a lembrança do que realmente importa.

E talvez, só talvez, essa seja a maior revolução digital de todas:

Fazer a gente querer ser protagonista da própria história.

Do nosso filme.

Do nosso quadrinho.

Da nossa bagunça bonita.

Então, se você me perguntar o que o algoritmo fez…

Eu te respondo:

Ele não criou uma imagem.

Ele desenhou de volta a esperança.

E por alguns segundos, entre fraldas, trabalho acumulado e mensagens não respondidas…

Eu fui o herói do filme do meu filho.

E ele, claro, fugindo com o bumbum de fora…

Ah, com certeza, ele é o meu protagonista favorito.❤️

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Túlio Aurelio

Faixa preta no tatame, iniciante eterno na vida.
Casado, pai de família, viciado em café e movido por fé e ideias que não me deixam dormir.

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